Who's afraid of abstract art?

Who's afraid of abstract art?

April 10, 2024

Nem todo mundo liga muito pras artes plásticas, mas até quem não se importa tanto, repete algumas opiniões que eu acho bem intrigante.

A mais infame de todas talvez seja o “isso aí, não é arte”, muitas vezes associada com um valor arbitrario que tenta justificar o motivo daquela obra não ser considerada arte.

No caso da arte abstrata, é quase impossível olhar pra uma de suas obras e não pensar “Isso é só um quadrado preto, até eu conseguiria fazer isso.”. E isso pode até ser verdade, mas esse não é sobre isso que eu quero falar.

A pintura na sua concepção, era algo mais utilitário do que artístico, ela se desenvolveu não como uma forma de expressão, mas como um meio de retratar a realidade, sejam desenhos em livros cientificos, afrescos numa igreja para atrair (ou botar medo) nos fiéis, ou uma pintura de algum nobre.

Ela demorou muito até alcançar o patamar de expressão artística atual.

Talvez ela só tenha chegado nesse ponto, quando a utilidade da pintura foi posta em cheque quando em 1826 a primeira fotografia foi tirada, a partir dali, o que antes era preciso anos de ofício e horas para ser executado, podia ser feito com mais realismo do que nunca, por qualquer um, instantaneamente.

Olhando agora, vemos que o fim da pintura como ferramenta utilitária, foi na verdade seu renascimento.

Não esse renascimento, esse:

A pintura não estava mais presa nas amarrar da realidade, o desafio agora era criar algo novo, agora que já temos como representar a realidade como ela é, como podemos ir além? Não é à toa que pouco tempo depois, vimos nascer artistas como Monet, Van Gogh, Salvador Dalí, Frida Kahlo e… Pollock?

Talvez você, assim como eu, viu arte abstrata pela primeira vez e pensou que… talvez tenhamos ido longe demais, após séculos desenvolvendo essa arte, foi nisso que a gente chegou?

Francisco de Goya, um dos maiores pintores da Espanha, era conhecido como o último dos velhos mestres e o primeiro dos modernos. Após ter sofrido um AVC que o deixou com o lado direito do corpo paralisado, morreu em 1828, dois anos após a invenção da fotografia.

Em 1792, numa carta escrita para a Real Academia de Belas-Artes de São Francisco, disse: “A natureza confunde e surpreende aqueles que mais a conhecem! Que estátua, ou molde, pode existir que não seja apenas uma cópia da divina natureza? Por mais excelente que seja o artista que a tenha feito, pode ele negar que, colocado-as lado a lado, uma é obra de Deus, e a outra de nossas mãos miseráveis?”

Então, na próxima vez que você se deparar com uma obra de arte abstrata, por mais que você ache ela feia ou bonita, por mais que você não enxergue valor artístico nela, talvez, ela seja uma das únicas coisas que realmente, o ser humano “criou”, e não uma mera cópia.